sábado, 22 de agosto de 2009

Tijuca Palace 1 e 2 (agosto/2009)


Abandonados e à venda

Alguns comentários

Aquele que não sentiu a perda de um cinema que freqüentou
durante anos, tem coração de pedra ou a memória nublada
(Carlos Drummond de Andrade)

Cidade sem cinema é como casa sem janela
(grafite em muro de cinema fechado)

Esse Rio de Janeiro! O homem passou em frente ao Cinema Rian, na Avenida Atlântica, e não viu o Cinema Rian. Em seu lugar havia um canteiro de obras. Na Avenida Copacabana, Posto 6, o homem passou pelo Cinema Caruso. Não havia Caruso. Havia um negro buraco, à espera do canteiro de obras. Aí alguém lhe disse: “O banco comprou”.
(Carlos Drummond de Andrade)

Os cinemas não morrem. Eles viram lembranças. Os velhos cinemas não morrem, transformam-se – em quê? Em novos cinemas, menores, mais simples; em lojas, ou depósitos; em lembranças. Em lembranças. [...]. Duvido que alguém não tenha saudosas lembranças associadas a cinema. (Moacyr Scliar)


terça-feira, 26 de maio de 2009

Uma das minhas salas favoritas

Cine Palácio

Interior original do cinema Palácio

Cine Palácio

Tombado provisoriamente pela Secretaria de Cultura. Comprado pelo Hotel Ambassador, vai virar centro de convenções.

Carioca

O interior mais bonito da Praça Saenz Peña

Imperator

O Imperator, no Méier, chegou a ser o maior cinema da América Latina. Ali fui barrada, aos 13 anos (a censura era 14 anos), querendo assistir "Menino do Rio", na década de 80. Depois assisti.
Ali vi tantos filmes...
A filas tomavam toda a galeria e iam até a calçada.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

América


Hoje é uma drogaria... "Os cinemas não morrem. Eles viram lembranças." (Moacyr Scliar)

Sistemática (Enciclopédia Einaudi)



"Na prática, esta arte da memória é uma arte da linguagem: ensina a conservar as narrativas e permite, pois, a um indivíduo tornar-se o depositário das recordações daqueles a quem nunca conheceu porque morreram muito antes do seu nascimento, e por sua vez transmitir estas recordações aos seus descendentes. Assim se forma a tradição oral que, durante milênios, constituiu o principal conteúdo da memória coletiva e transgeracional. Enquanto assim foi, tal memória não era substancialmente diferente da individual. Mais precisamente, a memória coletiva era constituída por uma sucessão de memórias individuais, cada uma delas recebendo as recordações das outras e conservando-as como suas. Assim, cada indivíduo identificava-se, sem disso dar conta, com os seus antepassados, dos quais recebia a herança e se tornava portanto uma reencarnação."

Krzysztof Pomian (O Homem das COLEÇÕES)

A memória coletiva


"Esquecer um período da vida é perder o contato com os que então nos rodeavam."
"[...] quando um homem entra em sua casa sem estar acompanhado por ninguém, sem dúvida durante algum tempo 'ele andou sozinho', na linguagem corrente - mas ele esteve sozinho apenas em aparência, pois, mesmo nesse intervalo, seus pensamentos e seus atos se explicam por sua natureza de ser social e porque ele não deixou sequer por um instante de estar encerrado em alguma sociedade."
"De bom grado, diríamos que cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva [...]"

Maurice Halbwachs (preferia ser um cientista, mais do que filósofo)

sábado, 25 de abril de 2009

A SAGA DO CINEMA BRASILEIRO


Que "Bravo guerreiro"(1968) é este cinema brasileiro, anda "De vento em popa"(1957), "Filmando fitas"(1926), mesmo depois de ter passado por tantas situações "Limite"(1930) nesses 105 anos de história. Nos primórdios era como seguir "No rastro do El-dorado"(1925), em busca do "Tesouro perdido"(1927), "Ao redor do Brasil"(1932) retratando "Coisas nossas"(1931). Era a aventura dos pioneiros realizadores itinerantes, "O desafio"(1965) do "Descobrimento do Brasil"(1937) para o próprio povo brasileiro. Ainda bem que tiveram esta "Audácia"(1970). Como "Aves sem ninho"(1939) largaram o "Asfalto selvagem"(1964) e ganharam "A estrada"(1955) "Fazendo fitas"(1935) no "Cenário da vida"(1931). Provando que nosso cinema não era "Fogo de palha"(1926) surgem os ciclos regionais disseminando a nova arte por toda "Pátria brasileira"(1917). "Vou te contá"(1958) que era apenas o início de uma "Alvorada de glória"(1931) nos preparando para os "Verdes anos"(1983) que estavam por vir. Estávamos frente ao "Canto da raça"(1942) ¾ "O cangaceiro"(1953), "A caipirinha"(1950), "A caiçara"(1950), "O João ninguém"(1937), "El justiceiro"(1967), "Os cafajestes"(1962), "O camelô da rua larga"(1958), o "Metido à bacana"(1957) e, até mesmo "Os deuses e os mortos"(1970) ¾ todos ganharam voz nas salas de exibição espalhadas por nosso território. "Alô, alô, Brasil!"(1935) "Agüenta o rojão"(1958) que o nosso cinema começava a viver o seu "Grande momento"(1958). "Luz apagada"(1953), projetor ligado e a "Maioria absoluta"(1964) do povo brasileiro lotava as sessões da Chanchada e dos filmes da indústria paulista. Acho que "Nunca fomos tão felizes"(1983). A "Opinião pública"(1967) e o cinema nacional viveram um "Duo de amor"(1909). "Sai da frente"(1952), que nas calçadas dos cinemas as filas dobravam o quarteirão: "Aviso aos navegantes"(1950)"Como Deus castiga"(1919) quem não chega cedo para o "Carnaval da Atlântida"(1952), "Claro"(1975), fica de fora da festa! "Nem Sansão, nem Dalila"(1954), agora, era chegada a hora da entrada em cena do Cinema Novo... "Não adianta chorar"(1945), pois nosso cinema perdia a "Inocência"(1915) e sacava seus "Fuzis"(1963) para acordar a "Mocidade inconsciente"(1931) que vivia "À margem"(1967) do "Brasil verdade"(1968). "Sai de baixo"(1956) que nossos filmes vão mostrar "Corações em suplício"(1925), "O vale dos martírios"(1925) dessas "Vidas secas"(1963), enquanto uma minoria estava "Nadando em dinheiro"(1952)... "Onde estás, felicidade?"(1939) A "Terra em transe"(1967), feito "Brasa dormida"(1928), sofrendo por "Culpa dos outros"(1922). Nosso "Destino em apuros"(1953). "É proibido sonhar"(1943). Haveriam "Cabeças cortadas"(1970). E nos anos da ditadura militar o nosso cinema era um "Cabra marcado pra morrer"(1984). Muitos de nossos cineastas tiveram que dizer "Bye, bye Brasil"(1979). O "Paz e amor"(1910) "Orgulho da mocidade"(1928) cedeu lugar à "Perversidade"(1921), à "Tormenta"(1930), à "Fatalidade"(1953), ao "Bang, bang"(1970), ao "Filho sem mãe"(1925), enfim, a um "Jardim de guerra"(1968). Era a época do "Matar ou correr"(1954). Quem seria "A próxima vítima"(1983) daquelas "Mãos sangrentas"(1955)... "Depois eu conto"(1956) mais sobre isso, pois são "Memórias do cárcere"(1984) que tiraram nossa "Alegria de viver"(1958). Mas como "Tristezas não pagam dívidas"(1944) e "A eterna esperança"(1940) é a última que morre, o cinema brasileiro mesmo não vivendo num "Mar de rosas"(1977), "Absolutamente certo"(1957) de sua "Alma gentil"(1924), proclama "Hei de vencer"(1924) e segue em frente resistindo bravamente. Com a "Pátria redimida"(1930), através do "Amor e patriotismo"(1930), a década de 90 nos reservava um "Estranho encontro"(1958). Nosso então Presidente da República, "Um cavalheiro deveras obsequioso"(1909), decreta "Braços cruzados, máquinas paradas"(1979) e "Num crime sensacional"(1913) extingue a EMBRAFILME provocando "A derrocada"(1918) do cinema brasileiro. Era "O dragão da maldade contra o santo guerreiro"(1969). O nosso cinema foi parar "Na garganta do diabo"(1960), mergulhamos numa "Noite vazia"(1964), que nos levou alguns preciosos anos. O cinema nacional foi "Enterrado vivo"(1920). E mais uma vez "O bravo guerreiro"(1968) não desistiu... Ele "É fogo na roupa"(1952). Novamente estamos de volta. Como "Agulha no palheiro"(1953) alguns filmes começaram a pipocar aqui e ali. Hoje, "Os herdeiros"(1969) dos pioneiros do nosso cinema, "Jurando vingar"(1925) os anos perdidos, oferecem a diferentes gostos um "Painel"(1950) da novíssima produção brasileira a cada ano. Não estamos mais "Perdidos e malditos"(1970), também não está "Tudo azul"(1952). Mas, segurando firme o meu "Amuleto de Ogum"(1974), "É com este que eu vou"(1948). Cinema brasileiro "Eu te amo"(1980) e "Eu sei que vou te amar"(1985) pra sempre...

Rio de Janeiro, 05 de maio de 2001.

Márcia Bessa
UM DIA VOCÊ PODE ACORDAR E PERCEBER QUE PERDEU UM DIAMANTE ENQUANTO ESTAVA MUITO OCUPADO COLECIONANDO PEDRAS!!!!

Autor desconhecido

sábado, 18 de abril de 2009


Seduzidos pela memória


"Um dos fenômenos culturais e políticos mais surpreendente dos anos recentes é a emergência da memória como uma das preocupações culturais e políticas centrais das sociedades ocidentais."


"Não há dúvidas de que o mundo está sendo musealizado e que todos nós representamos os nossos papéis neste processo. É como se o objetivo fosse conseguir a recordação total. Trata-se então da fantasia de um arquivista maluco? Ou há, talvez, algo mais para ser discutido neste desejo de puxar todos esses vários passados para o presente? Algo que seja, de fato, específico à estruturação da memória e da temporalidade de hoje e que não tenha sido experimentado do mesmo modo em épocas passadas."


Se nós estamos, de fato, sofrendo de um excesso de memória*, devemos fazer um esforço para distiguir os passados usáveis dos passados dispensáveis. Precisamos de discriminação e rememoração produtiva e, ademais, a cultura de massa e a mídia virtual não são necessariamente incompatíveis com este objetivo. Mesmo que a amnésia seja um subproduto do ciberespaço, precisamos não permitir que o medo e o esquecimento nos dominem."



Andreas Huyssen

*O termo é de Charles S. Maier: "A surfeit of memory? Refletions on history, melancholy and denial"